quarta-feira, 13 de junho de 2012
Preste atenção, me veja, me acolhe
A árvore na rotunda do CCBB, apesar de bela, colorida, iluminada, não chega nem perto de preparar o visitante para a exposição Amazônia – Ciclos de Modernidade. Lá em cima, no primeiro andar, a Amazônia se espalha em mapas antigos, objetos, desenhos, obras de artistas contemporâneos, como Adriana Varejão e Frans Krajberg, e também do século XIX, como Joseph Righini. E tem fotos de Pierre Verger, obras de Emmanuel Nassar. E os povos. E a floresta. Um tsunami.
Quem recebe o visitante é um índio, com o rosto azulado na tela que funciona como um portal para a exposição. E ele fala e fala e fala sobre seu povo – “o índio é invisível, o índio de verdade ninguém vê... Aquele que passa fome, que sofre... Tem o índio afogado em palavras, ‘invizibilizado’ pela academia, mas o índio como ser humano, que tem direitos, esse desaparece... ”
Daí pra frente, é difícil seguir com o coração leve, por que tudo na Amazônia é grande, intenso, forte – sua ocupação e exploração, seus povos, animais, flores e frutos, movimentos, seus gritos, seus mortos.
Se você quiser prestar atenção de verdade, ver e ouvir mesmo, vai ser difícil não verter uma lágrima. Num movimento ascendente, que intensifica um contato com a região intermediado e guiado por artistas como Alexandre Romariz Sequeira – que imprime serigrafias dos moradores sobre seus objetos pessoais, redes e lençois – a exposição despede, lá no final, um visitante emocionado, tenso, grávido. Impossível dispensar a bagagem que acabou de acumular. E a voz do índio, lá do início, vai ficar a repetir: me veja!
Amazônia – Ciclos de Modernidade
CCBB
Rua Primeiro de Março, 66
Estação do metro mais próxima - Uruguaiana
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